Quer apenas as notícias? Vá para o fim do texto. Quer refletir a situação comigo? Leia o texto todo. Obrigado por chegar aqui. Sinta-se a vontade!
Eu gosto de imaginar algumas histórias e parábolas bíblicas em perspectivas diferentes. A partir de outros espectadores. Deixando que eles nos contem seu lado da história. Veja bem, não discordo ou desgosto de como Deus inspirou os autores bíblicos, é apenas meu lado imaginativo perguntando como seria aquele ponto de vista.
Junto com um amigo, já a alguns anos, compus uma música que narra o milagre da multiplicação dos pães e peixes na perspectiva de quem envia o menino que tinha os cinco pães e dois peixes para aquele encontro com Jesus e naturalmente o que acontece a partir desse ponto de vista. Eu particularmente creio que essa seja das músicas mais belas que já escrevi, e a obra de arte musical de meu amigo Adriano Franco dispensa comentários.
A parábola que mais gosto e que mais instiga minha imaginação é a do “Bom Samaritano”. Recentemente vi, em um dos episódios da série The Chosen, esta parábola, ali sendo abordada como um evento real e não apenas um conto, sendo dramatizada na perspectiva do ladrão que roubou o judeu que foi socorrido pelo samaritano. Achei fantástico! Fui tocado pela sensibilidade de como a situação foi tratada. Minha mente acompanhou a trama saboreando cada nuance da mesma narrativa que já havia lido, ouvido, estudo e pregado muitas vezes, porém a partir de outra visão. Chorei junto com a Débora, como em todo episódio que assistimos dessa série.
A partir dessa mesma parábola sou extremamente impactado pela reflexão possível se olhássemos para a mesma história na perspectiva do homem que foi socorrido. É claro que sei que Jesus tinha um propósito muito claro em contar a parábola do jeito que fez.
Para quem não sabe, Nosso Senhor, estava respondendo o questionamento – tentativa de confrontar na verdade - de um escriba. No diálogo a Lei foi resumida em amar a Deus acima de tudo e o próximo como a você mesmo. O escriba pediu pra Jesus definir quem seria esse próximo – ele queria testar os critérios morais e religiosos de Cristo sobre com quem um judeu deveria se relacionar.
Então Jesus conta a parábola, onde quem obedece essa Lei é um Samaritano, literalmente “quebrando” a tentativa do escriba, perguntando para ele quem foi o “próximo”, quem se aproximou demonstrando que vive a Lei. A resposta óbvia para o escriba era o samaritano, que para um judeu era dos tipos de pessoas que ele mais desprezava.
Bom, depois desse resumo, quero voltar ao “socorrido”. Não sabemos nada dele, provavelmente um judeu que fazia uma viagem e foi assaltado e deixado quase morto na estrada. Talvez por um tempo considerável, pois foi possível que pelo menos duas pessoas, que Jesus identificou, passassem por ele, um Sacerdote e um Levita – ambos “praticantes” da Lei que não fizeram nada.
Em seguida ia um Samaritano, que fazia aquele caminho sempre. A ARA diz que ele seguia o “seu caminho” passa pelo homem quase morto. Ele sabia que poderia ter sido ele naquela situação, então socorre o homem, leva ele em seu animal para tratamento, paga todos os custos de forma adiantada e ainda se compromete com uma dívida futura. Isso é amor sacrificial.
Depois disso tudo minha imaginação começa seu trabalho. Pense nesse homem socorrido acordando com a luz do sol vinda de uma fresta da janela, aquecendo seu rosto. Ele ainda está debilitado, provavelmente sentindo dores pelo corpo. Abre seus olhos cansados em sua face abatida e olha para um aposento desconhecido e ataduras, faixas e curativos em seu corpo machucado. Talvez lembre ou não do que aconteceu na estrada, mas certamente não sabe como chegou até ali. O hospedeiro entra no quarto trazendo água e unguentos para suas feridas, se surpreende com o homem acordado. Talvez passaram-se alguns dias, então lhe conta detalhadamente o que sabe da história.
Agora adentramos no coração desse homem. Ele processa cada detalhe do relatório do hospedeiro, contempla cada ação e resultado de um homem que, provavelmente, nunca soube o nome, não sei. O quão grato ele deve estar ou deveria estar? Um desconhecido que, provavelmente, ele como judeu desprezaria, olhou para ele com amor. Deu de si mesmo, tempo, esforço, energia, dinheiro, para um outro desconhecido, sem qualquer condição ou expectativa de retorno. Não foi um investimento ou empréstimo, foi sacrifício. O quanto este homem não deve, entre confusão e surpresa, ter ficado grato. Não havia merecimento por nada.
Desde ontem a noite e hoje até o almoço de hoje (09/03/25) meu emocional ficou descompensado. Algumas coisas me frustraram e acumularam, estou cansado de ficar no hospital, cansado dos procedimentos e processos, e então cheguei a um ponto que quase qualquer coisa me irritava – a Débora resolveu rapidinho com uma bronca. Apesar de eu estar num quadro de melhora constante, os sintomas ainda estão aqui e tenho lidado com dores de cabeça, corpo e náuseas o tempo todo. Nesse período foi um pouco acentuado. Então eu estava um chato. Acontece com as melhores pessoas. E hoje recebemos ótimas notícias, por isso não fazia muito sentido o emocional.
Depois do almoço fui medicado e um dos remédios me fez dormir profundamente. Quando acordei, já no meio da tarde, entrava pela janela do quarto um sol bem aconchegante. Vi a Débora cochilando numa poltrona aqui no quarto. Lembrei dessa minha perspectiva dessa parábola e me coloquei no lugar do socorrido.
Não mereço tanto cuidado de tanta gente. Minha esposa tem se desdobrado nesse período de internação. Buscou me acompanhar na UTI como podia, trabalhando um dia todo sentada numa cadeira com o laptop no colo. Agora que pode dormir aqui, passou a noite numa poltrona – ok que é uma senhora poltrona, mas é uma poltrona.
Já compartilhei que houve um custo adicional e que quando soubemos, não tivemos nem tempo de fazer as contas e, em 10 minutos, recebemos em ofertas de nossos irmãos da Refúgio, minha família e outros amigos, mais do que o suficiente para essa conta. As manifestações de carinho, mensagens de incentivo e orações tem preenchido nosso Whatsapp e Instagram. É tanto amor que não conseguimos dar conta. Não mereço o que foi pago, não mereço as ataduras, não mereço o tratamento na hospedaria. Cada ação em meu favor é simplesmente graça e misericórdia do Nosso Senhor.
Normalmente focamos esse não merecimento olhando para o sacrifício de Jesus na Cruz, e claro, não merecemos mesmo. Romanos 5.8 nos diz que esse sacrifício é demonstração de amor, pois Jesus morreu por nós quando ainda “éramos” pecadores, merecedores da Ira.
Minha reflexão é que esquecemos que essa mesma gratidão deve também permear a nossa vida cristã. Deveríamos ser o povo da gratidão. Já recebemos o maior dos presentes que é a Salvação em Cristo Jesus, porém ainda me pego lamentando por coisas pequenas, por uma manteiga – piada interna com a Débora, perguntem para ela.
Nas palavras finais e gerais que Paulo dá aos colossenses no final de sua carta (3.15-17), dentre as orientações práticas: 1) que a paz seja arbitro do coração, 2) que a palavra habite nos corações e seja expressada coletivamente pelo aconselhamento, ensino e louvores coletivos e 3) que e tudo o que fizermos ou falarmos seja honrando o nome de Jesus o representando; o apóstolo permeia três exortações à gratidão: v. 15 “E sejam agradecidos”, v. 16 “com gratidão a Deus em seu coração”, v. 17 “dando por meio Dele (Jesus) graças a Deus Pai”. Este é apenas um dos exemplos onde, na Palavra de Deus, vemos como a gratidão deve estar presente em tudo nas nossas vidas.